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ritameirelespsicol

A proteção que desprotege

Atualizado: 14 de dez. de 2019



Quando se gosta muito de alguém o instinto, muitas vezes, é o de proteger e cuidar dessa pessoa. Esse instinto de proteção verifica-se, especialmente, dos pais para com os filhos.


Quando uma criança nasce queremos protegê-la de todos os ‘males do mundo’, vêmo-la como um ser frágil que tem de ser defendido de tudo o que lhe possa acontecer. Cresce o medo de que possa vir a sentir algum tipo de sofrimento ou de processo desagradável. É função dos pais cuidar, proteger e dar afeto, mas com ‘conta, peso e medida’…Proteger não é superproteger.


É verdade que o mundo, especialmente hoje em dia, está cheio de perigos à espreita e é preciso estar bastante atento. Contudo, a função do medo é o de proteger e não o de bloquear. Ouvimos muitas vezes pais que repetem incessantemente frases como ‘não vás por aí que podes cair’, ’não podes ir brincar com esses meninos porque não os conheço’, ’não vais sair sozinho porque pode acontecer-te algo', 'nunca consegues fazer isso, deixa que eu faço'. Naturalmente, que o fazem com a melhor das intenções, que é a de ajudar e proteger os filhos, contudo este tipo de mensagem pode ser recebida como 'não sou capaz de fazer nada sozinho' ou 'o mundo é um lugar perigoso e eu não consigo cuidar sozinho de mim'. Desta forma, instala-se o clima do medo e acentuam-se as inseguranças.


Não nos podemos esquecer que na vida é preciso ‘cair e esfolar os joelhos’. Se não preparamos os nossos filhos para cair, também não os preparamos para se levantarem sozinhos. Não é possível colocar os filhos ‘numa redoma de vidro’, nem isso seria benéfico, uma vez que dessa forma não se permite desenvolvimento, crescimento e adaptação aos desafios que irão com certeza encontrar pela frente. É preciso estimular a independência e a autonomia, através da exploração do ambiente envolvente, para se criarem adultos capazes de enfrentar obstáculos e não futuros adultos inseguros e com uma baixa autoestima. Este tipo de consequência pode levar ao desenvolvimento de sintomatologia ansiosa e depressiva, assim como a uma elevada dependência emocional.


Assim, a importante missão dos pais é a de ensinar os filhos 'a voar sozinhos' e não a 'voltarem sempre para o ninho' quando o mundo parecer ameaçador. Será importante, em vez de retirar obstáculos, ajudar a ultrapassá-los.


Mas, como fazer isto?


- Em vez de dar todas as respostas e soluções dos problemas, incentive a criança a descobrir por si ou ajude-o a pensar nas soluções.


- Permita que o seu filho explore o que o rodeia. Deixe-o sujar-se, saltar, pular. No fundo, sentir-se livre para explorar, mas seguro por ter os pais por perto.


- Ensine que ter liberdade exige responsabilidade. Ou seja, essa liberdade deve ser atribuída gradualmente de acordo com o cumprimento das regras e limites impostos pelos pais. A maturidade demonstrada pode e deve ser recompensada.


- Por fim, comunicar de uma forma clara e transparente e incentivar que a criança o faça é essencial. Permite que a criança se sinta confortável para partilhar as suas preocupações ou questões, assim como também os pais ajudarem os seus filhos a verem o que os rodeia de uma forma saudável e adaptativa.


Ser pai não é fácil e não vem com 'um manual de instruções'. É em relação com os filhos que se vai aprendendo a ser pai e errar faz parte do processo. Reconhecer o erro também permite mostrar ao seu filho que errar é parte o processo de aprender, tornando-o resiliente e capaz de enfrentar os obstáculos e frustrações na vida.

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